“Eu tenho, você não tem!!! Eu tenho, você não tem!!!!”
Quem não se lembra dessa propaganda de produtos escolares com personagens da Disney, vinculada há alguns anos? Famosa pela frase que se espalhou com rapidez e pelas dores de cabeça que alguns pais enfrentaram nas papelarias com os filhos implorando pelos produtos.
A propaganda foi tirada do ar.
Mas, e essa frase: “Eu tenho, você não tem!!!”?
Essa frase deixou explicito, numa brincadeira de criança na escola, uma vontade reprimida pela grande maioria das pessoas. O verdadeiro motivo do “ter”.
Hoje, somos bombardeados por frases imperativas com mensagens do tipo Tenha, Compre, Possua.
Tudo leva ao consumo desmedido, a vontade de ter o maior, o melhor, o mais caro, o mais moderno. E para que?
Para implicitamente olhar para seu amigo, conhecido do trabalho, da escola, vizinho e pensar: “Eu tenho, você não tem!!!”
Aposto como neste exato momento você esta pensando: “Eu não faço isso!!!”
E eu te digo, faz sim. Todos fazem, consciente ou inconscientemente.
Eu fiz, e às vezes ainda faço. E assumo isso com vergonha.
Esta sociedade consumista julga as pessoas pelo o que elas possuem, o que elas vestem e os lugares que freqüentam.
E se estão sendo julgados por tudo isso, então por que não ostentar o que possuem?
Quem não deseja o celular último modelo, objeto de desejo? Já se perguntou se realmente um celular de R$2.000,00 é necessário ou é apenas para desfilar com ele por ai para despertar a inveja das pessoas?
Sim, inveja. Ninguém admira ninguém pelo celular, pelo óculos, pelos sapatos, pela bolsa, pela marca da etiqueta da sua roupa e por todas as outras coisas que se podem comprar. Ninguém admira, mas é o primeiro item a ser julgado.
Compra-se sem medida para satisfazer um único sentimento, o ego. E entrando nessa roda, atrás dele vem a inveja. Claro, se você tem, mas o cara da mesa do lado aparece com um melhor, o que você vai sentir de verdade? Vai ficar feliz por ele, ou vai querer ter no mínimo um igual para apaziguar a inveja e voltar a inflar o ego?
A partir do momento que a pessoa compra um bem para ostentar, fica observando e buscando, para sempre ter o melhor, o maior, o mais caro, o mais moderno, e assim continuar alimentando o ego.
Uma guerra silenciosa. Ninguém assume, ninguém fala, mas está lá. Esta em todo lugar. Uma bola de neve dentro daquele que vive isso. Um busca sem fim, por uma sensação de prazer ínfima, ridícula de tão pequena e tão passageira.
Perde-se nesse caminho a satisfação pessoal, pura e única, de conseguir comprar algo que realmente deseja. Perde-se o prazer de curtir esse momento, sozinho, sem necessidade de falar no megafone sobre a última aquisição.
Compra-se por necessidade real, compra-se por prazer, mas muito se compra para ostentar, para mostrar, já que assim, sente-se melhor, sente-se maior do que as outras pessoas.
E isso, sabendo-se ou não, segrega mais e mais as pessoas. Existem as que podem e tem, e as que não podem e fazem de tudo para ter. E eu me pergunto, para que?
Para ser considerada alguém neste esquema da sociedade. Quando os bens materiais passaram a definir uma pessoa, eu não sei, mas definem.
A primeira vista, o primeiro contato, é o que se vê. Não se enxergam a personalidade, o jeito, as idéias. Vêem-se o carro, as roupas, os penduricalhos eletrônicos. E querendo ou não, este é o primeiro filtro usado para classificar alguém, a peneira utilizada para uma aproximação ou não, uma conversa, o conhecer realmente a pessoa.
E vive-se ostentando para ser aceito.
Compre, compre mesmo. Compre o necessário não o mais caro, compre o útil não o fútil, compre para você e não para o mundo. Aproveite e celebre essas conquistas materiais, com você mesmo.
