Vá além do seu reflexo, além do cabelo que não acordou de bom humor hoje e da espinha que resolveu inflamar no dia daquele encontro.
O que você vê? Descreva-se.
Descreva-se com todas suas qualidades, e principalmente com todos os seus defeitos, e com toda a sinceridade, você está fazendo isso para você. Ultrapasse a barreira dos defeitos “aceitáveis”.
O que você vê? Achou seus erros?
Encare-os, como se fossem seu reflexo. Você tem vários sentimentos que não te acrescentam em nada, que não ajudam em nada, que não te fazem ir para frente. Está vendo? Não é bonito, tenho certeza.
Encare-os, e analise-os. Analise todas as situações onde esses sentimentos te levaram a cometer algum erro. Algum erro de julgamento, algum erro de atitude, alguma briga, alguma fofoca, algum desentendimento. Sentimentos que te levaram a fugir adotando posturas que mesmo sem saber te sufocam, que escondem um outro Eu, o verdadeiro Eu, escondido atrás disso tudo e que hoje você não vê no seu reflexo. Destrinche cada situação e veja o que te levou àquela decisão. Achou? Foi a inveja, o ciúme, o medo, a solidão, a preguiça, a raiva, o ego? Foi o querer ser aceito tornando-se o que os outros gostariam que você fosse? Foi a falta de pensar antes de falar? Foi o intrometer-se para sentir-se importante? Ache a causa, a verdadeira causa. Não floreie, não embeleze, não busque desculpas para justificar o erro, não se engane.

Não é bom, dói. Dói ver os erros, dói ver que somos tomados por sentimentos pequenos, que somos piores do que imaginamos ser, que somos como aqueles que julgamos.
O que você ganhou fazendo isso? Na hora, você pode ter se sentido bem, mas e depois? E a conseqüência?
A conseqüência só é vista depois dessa análise, senão, vive-se no erro, pois acredita-se ser o certo. E por que fazer uma análise assim se viver na ignorância é confortável?
O que sobrou de bom realmente de tudo isso? Para que passar por tudo isso se depois de se encarar nota-se que foi tudo para satisfazer o ego, ou para fugir de algo?
Confrontar essa verdade, sua verdade, não é fácil. Mas fácil viver no erro fingindo não conhecê-lo. Ver que passou parte da vida se enganando machuca e enxergar que se tornou uma pessoa diferente do que realmente é dói. Uma dor como se algo se quebrasse dentro de você, um castelo de areia que tomba.
Encarar-se e enxergar-se quebra muita coisa, quebra a casca. A casca do erro que vai se acumulando, a crosta dos sentimentos mesquinhos que te aprisionam. É ver que parte da sua vida foi desperdiçada por coisas sem importância. Passou e nada de realmente bom ficou.
Olhar para dentro e ver tudo isso para poder tirar a casca. Liberta-se e descobrir seu verdadeiro eu. O Eu que sabe que ainda erra, mas que vê o erro, e passa a evitá-lo. O Eu que sabe que fugiu de sentimentos enraizados com atitudes contrárias a sua real personalidade. O Eu que quer deixar para trás o fútil, o inútil, a preguiça, o medo. Encontrar o Eu que vive plenamente, satisfeito, inteiro. Sem cascas, sem máscaras, sem pose.
O Eu que se ama, e sabe como amar as pessoas a volta.
Depois da dor, sente-se vivo. Sentir que se pode viver, sendo exatamente como você é, com todas as qualidades e todos os seus defeitos. Sem vergonha de ser o que é, sem vergonha de admitir o tropeço e a queda, sem medo de levantar e mudar, sem procurar um culpado, sem querer se ajustar para fazer parte, mas fazer parte pelo que é. Sem rótulos, sem posturas.
Olhar para trás para ir em frente de uma forma diferente, em paz e completo, e não desperdiçar mais a vida. Viver a vida plenamente, com você mesmo. Por que ser pequeno, se é possível ser grande?