sexta-feira, 8 de abril de 2011

Algumas considerações - Atentado Realengo

Diante do acontecido na escola do Realengo, no Rio de Janeiro, na data de ontem (07/04/2011), uma preocupação nos salta aos olhos:


Como a imprensa vai lidar com isso.


“Ora bolas o trabalho da imprensa é informar! Levar a notícia até a população...”


Perfeito.


No entanto, quero manifestar a preocupação com o nível de atenção que será dado ao caso. De alguma maneira, já é óbvio à todos que isso será notícia nos jornais por vários dias. Nos programas de domingo a noite. Nos programas investigativos e documentais. No caderno especial do jornal no final de semana. Vão tentar traçar o perfil psicológico do Atirador. A vida e os sonhos de cada uma das crianças assassinadas e feridas. Depoimentos diversos de quem conhecia o assassino e muito mais.



Uma coisa me chamou a atenção no pronunciamento de nossa Presidente. Ela disse “(...) não era característica do país ocorrer esse tipo de crime(...)”. De fato, atentados não são tão comuns quanto chacinas aqui no Brasil. Por isso a cobertura da imprensa se torna bastante relevante.



Manifesto em nome do Grupo Mãos o repúdio à toda e qualquer reportagem a respeito do assassino. Humanizando-o ou bestializando-o. Por quê?


Porque tememos que pessoas com qualquer nível de demência ou transtornos psicológicos percebam que esta é uma formidável maneira de chamar atenção para suas dores, causas e revoltas. E te-las anunciadas em horário nobre, de graça! A custa de vidas inocentes e atentados esdrúxulos.



Fica também a recomendação que a própria imprensa procure incutir a cultura de se prestar mais que 30 segundos de atenção ao que for manifestação pacífica.


Assim, quem tiver “tendência sociopática”, “psicótica”, ou simplesmente querer chamar a atenção da sociedade ou dos familiares, vai perceber que o que valorizamos e o que nos chama atenção não é a atrocidade que choca, mas a verdade que liberta.


Então, jovens de todo o país (e do mundo). Querem chamar a atenção? Querem expressar a dor de vocês, a revolta, a angústia? Querem gritar por maus tratos sofridos, anos de abuso e experiências terríveis de vida... Vão fazer música, escrevam peças de teatro, façam folhetins, pintem um quadro. Organizem manifestações, criem blogs, formem grupos que acreditem nas mesmas coisas, façam um filme, inventem soluções. Porque a estas ferramentas de transformação é que realmente devemos estar dando atenção.


DAR ATENÇÃO??? Sim, vamos dar atenção sim. Ta aqui o nome de quem realmente merece receber toda a atenção:


Karine Chagas de Oliveira, 14 anos;


Rafael Pereira da Silva, 14 anos;


Milena dos Santos Nascimento, 14 anos;


Mariana Rocha de Souza, 12 anos;


Larissa dos Santos Atanázio; 13 anos;


Bianca Rocha Tavares, 13 anos;


Luiza Paula da Silveira, 14 anos;


Laryssa Silva Martins, 13 anos;



Samira Pires Ribeiro, 13 anos;



Ana Carolina Pacheco da Silva, 13 anos;



Géssica Guedes Pereira, (a confirmar idade);



Igor Moraes da Silva, 13 anos;



E todos familiares deles e de todos os outros aluninhos feridos.


O Grupo Mãos continua a disposição dos familiares e torcendo para que todos os feridos se salvem!


(Torcemos que no coração de vocês, fique alguma capacidade de perdoar, não pelo bem do assassino, mas pelo vosso - mas não sabemos o que é estar nesta posição. Desejamos que se recuperem)



Para o ser humano que cometeu o erro de não amar as pessoas como se não houvesse amanhã... O nome dele nem vai aparecer aqui... E espero que ele fique esquecido na história do mundo.

3 comentários:

CESAR CRUZ disse...

PERFEITO! CONCORDO 100%.

DEUS CONFORTE O CORAÇÃO DESSAS MÃE E PAIS...

ABRAÇOS
CESAR CRUZ

b disse...

Que saudade gente!
E a postagem - prá lá de convenientíssima!
E plena de compaixão.

Jaime Guimarães disse...

A espetacularização da notícia... um seguidor - que termo estranho - no twitter me relatou que a filha, de 04 anos, perguntou se aquilo iria acontecer na escolinha dela também.

Fazer a cobertura de um fato é diferente de tornar este fato um "espetáculo". E os excessos, mais uma vez, apareceram.

Aos pais, muita força. E aos meus colegas professores da escola em Realengo, muito apoio, pois eles lidarão com crianças emocionalmente abaladas.

Abs!