Neste fim de semana me deparei com duas situações. Dois amigos contando sobre seus relacionamentos. Os dois namoram meninas “evangélicas”, cada uma de uma congregação diferente.
Um, reclamando que a namorada estava obrigando sua presença no culto, fora isso, comentando que a menina é virgem por causa da igreja. O outro levou um fora da namorada por causa do pastor, que insinuou para a ex-namorada que “algo” de fora a desviava de seu caminho. Como ele não freqüentava os cultos, o “algo” de fora só podia ser ele, então, ela terminou o namoro.
Virgindade ou não deve ser uma opção pessoal, baseada em seus valores morais, e não a imposição de uma religião, como acontece na maioria dos casos. Eu acho louvável quem sustenta uma decisão dessas nos dias de hoje, mas por vontade, e não para ficar PASSANDO VONTADE por causa da igreja, que até onde ele contou, é o que acontece.
O pastor decidir que o namorado é péssima influência e o pior, ela acatar essa decisão, me mostra duas coisas: 1) ela não gostava dele o suficiente, 2) é submissa.
Agora, por que submissa?
Pelo simples fato que a pessoa deixou de pensar e agir por sua vontade e discernimento para acatar a vontade e JULGAMENTO do pastor, tão homem, tão mortal e tão imperfeito como qualquer um de nós.
As religiões evangélicas tendem a proibir, doutrinar, segurar o máximo que podem seus fiéis sob suas rédeas no sistema do medo e opressão. Medo porque, se deixarem de freqüentar a igreja, vão se perder na vida, no mundo, voltar aos pecados e perder o amor de Deus. Opressão porque tudo o que é de fora do círculo da igreja, é do Diabo. Vejo esses grupos de jovens nas igrejas, com a justificativa que estão ali para se manterem longe do sexo, do vício, do álcool. Isso me mostra apenas que falta tanto discernimento que sozinhos por ai, tornar-se-iam alcoólatras viciados e ninfomaníacos. Se eu estou em um lugar, e uma pessoa resolve cheirar cocaína na minha frente, não quer dizer que eu vá enfiar meu nariz lá também. Simples assim.
A pessoa se identificar com a interpretação de Deus que uma determinada religião dá (Interpretação sim, pessoal, individual. Por isso temos tantas Religiões Cristãs, que teoricamente deveriam ser uma só, já que todas seguem Cristo) e se sentir a vontade com isso, é uma coisa, daí a ter uma outra pessoa dizendo o que é certo ou errado por você, é perder sua personalidade. É não usar seu julgamento, é se encaixar no rebanho. E o pior, quebrar um dos mandamentos. Sim, porque um dos mandamentos não é AMAR AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO? (Para mim, amar ao igual, mas vou deixar próximo aqui que é como as religiões mostram tipo fila de banco: Próximo, por favor!) Então, amar é respeitar, inclusive a decisão pessoal de seguir ou não determinada religião, respeitar seu caminho, individual, em busca Dele. E impor sua religião é desrespeitar seu irmão. Então, com que moral essas pessoas julgam o que é certo ou não, se elas mesmas desrespeitam um dos “mandamentos”?
E como as pessoas deixam de julgar o que é certo ou errado segundo seus valores morais para se juntar ao rebanho sem voz, perdido na confusão de palavras gritadas a esmo, tentando acertar todos os corações, tão únicos, cada um em sua busca? Eu não faço parte desse rebanho, meu encontro com Deus é pessoal, intransferível e principalmente, sem intermediários.
8 comentários:
Isabel,
A moça (a ‘ex’) não gosta é dela mesma.
Coisa comum na Normose vigente.
Eu eu já cri na possibilidade de uma religião única.
Porém, se a Natureza (= Divino) gosta de variedade,
se somos múltiplos,
complementares,
suplementares,
como ‘caberemos’ numa religião única?
Haja dogma, némesmo?
Parece útil, por vezes, inverter a ordem:
‘Ama a ti mesmo como a teu próximo.’
Fernanda,
Que Deus gosta de variedade, também concordo, somos todos iguais mas ao mesmo tempo diferentes, mas o que leva cada um a adotar uma religião é a falta de confiança em si próprio em buscar seu caminho. A religião serve de muleta, de apoio. Existem várias "religiões", cada um tem a sua, dentro de si, com o mesmo objetivo. O que não vale é deixar de buscar interiormente aquilo que sempre esteve lá, e seguir as doutrinas de pessoas, humanas, que acreditam poder impor sua versão como sendo a verdadeira.
Concordo na parte que somos iguais embora diferentes; discordo na parte de que qualquer religião é muleta para toda pessoa que se torna adepta. Vai variar, como tudo na vida, não dá pa fechar a questão.
Se for olhar a vida da pessoa que escolhe usar religião como muleta, percebe-se muitas outras muletas, cada qual adequada a cada circunstância do existir.
É um hábito/vício pessoal, talvez instilado pela cultura habitual e pela falta de auto-estudo.
Isso também pode explicar porque é que a pessoa sente tanto medo de 'cair' (no vício, no sexo, ...): falta 'perna'.
MaFê
Fernanda,
Eu uso o termo "muleta" porque geralmente as pessoas negligenciam o que sentem, deixam de pensar e ter uma opinião a respeito de determinados temas e aceitam o que é dito pelas religiões mundo afora.
Torna-se muito mais fácil trilhar o caminho pré-estabelecido do que encarar seu interior, buscar por si só. E nós, humanos ignorantes como somos, aceitamos essa versão imposta onde devemos temer o desconhecido e poderoso Senhor, ao invés de aceitar a simplicidade e beleza de que Ele esta em cada um.
Eu também uso ‘muleta’ com esse sentido, risos.
(Em comum, temos o ‘uso’ da muleta e o DDD – Discagem Direta com o Divino).
Quando escrevo que falta ‘perna’, quero dizer que falta osso, (estrutura/ arcabouço, imunidade e sangue=vitalidade) articulação e movimento. Falta cor-agem, correr risco de ‘enfiar o pé até a perna na jaca’.
Porém, tem gente que segue dogma e que tem ‘perna’ pra ganhar o mundo.
Pra colocar uma pimentinha, segue uma estorinha que pesquei por aí:
“Um dia, um filósofo estava conversando com o Diabo quando passou um sábio com um saco cheio de verdades. Distraído, como os sábios em geral o são, não percebeu que caíra uma verdade. Um homem comum vinha passando e vendo aquela verdade ali caída, aproximou-se cautelosamente, examinou-a como quem teme ser mordido por ela e, após convencer-se de que não havia perigo, tomou-a em suas mãos, fitou-a longamente, extasiado, e então saiu correndo e gritando: ‘Encontrei a verdade! Encontrei a verdade!’ Diante disso, o filósofo virou-se para o Diabo e disse: ‘Agora você se deu mal. Aquele homem achou a verdade e todos vão saber que você não existe...’ Mas, seguro de si, o Diabo retrucou: ‘Muito pelo contrário. Ele encontrou um pedaço da verdade. Com ele vai fundar mais uma religião e eu vou ficar mais forte.”
(Fica mais interessante se ouvir em seguida “PRA QUALQUER SANTO” do Marcus Santurys, Beto Birger e Magda Pucci, baseado no cordel ‘‘Brosogó, Militão e o Diabo’’, de Patativa do Assaré.)
Um abraço,
MaFê
Para mim, o texto mostra a conduta comum da mente do homem. Ele encontrou parte da verdade de outra pessoa, faz sua interpretação e sai divulgando, tentando convencer outras pessoas daquilo. Ele não encontrou a verdade dentro dele, por isso a grande probabilidade de formar outra religião. A verdade é uma, pode chegar para cada um de forma diferente, mas o meio de se chegar a ela somente ouvindo nosso coração, nossa alma, e não nossa mente.
FATO!
Isabel, Felipe,
Bem, é importante ficar claro que eu não divorcio a mente do coração, pra mim é tudo uma coisa só: a mente e o coração ligados com um fio (confio, confiança).
O que você chama de conduta comum da mente(=habitual, geral, vulgar)é a conduta natural(=espontânea, simples, instintiva) da mente humana, que difere do comportamento da mente educada(=instruída, delicada).
A mente educada pode buscar e lidar com a Verdade (nua e crua). A mente a natural lida bem com o mito (a Verdade vestida de mentira) e parece que gosta de tutela.
Tem até uma estorinha indiana que ilustra bem isso, outro dia eu conto...
Abraço, beijo,
MaFê
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