domingo, 23 de novembro de 2008

Verdades que ferem - Parte 1/2

Já reparou naquelas entrevistas, quando é perguntado “qual seu homem ideal”, que a pseudo-atriz-modelo-promotora de eventos-capa peladona da revista, responde: “Que seja sincero, honesto, carinhoso, verdadeiro, criativo, interessante, bem sucedido...” e por aí vai. Já reparou na similaridade de todas as respostas? Talvez esta seria a sua também. Pelo menos seria a minha, se fosse mulher. No meu caso, respondo com a mão dentro da cueca: “uma que não me encha o saco”, mas o ponto é o mesmo, queremos algo que seja bom.
Continuando a entrevista, o repórter pergunta “como você se descreveria?”, e vem a resposta: “Me acho verdadeira, sincera, honesta, carinhosa, carente, criativa, ousada, interessante, decidida...” e por aí vai...
Fique alguns segundos refletindo sobre isso!!!! Ficou?(...) Tudo bem.

Não, irei falar sobre autoconhecimento, auto-aceitação nem automóvel.
O assunto é outro: tomar vergonha na cara.
O que tem a ver com a entrevista da gostosa? Já chego lá.
A humanidade é experiente. Milhares de anos na labuta, no batente. E como toda criança, tudo que é porcaria e coisa ruim, aprende primeiro e com mais facilidade.
Sabemos por experiência o que é bom. Sabemos que detestam racismo, que abominam mentira, que odeiam egoístas, arrogantes, metidos e falsos. Sabemos que adoram sinceridade, carinho, afeto, doçura, firmeza e verdade...
Então me expliquem: Onde estão essas pessoas “defeituosas”?
Se você é um preconceituoso racista, falso, egoísta, arrogante, filho da puta, se apresente!!!!
(o filho da puta, foi por minha conta!)
Claaaaaaaaaaro que não tem ninguém aqui assim. Mas o mundo está cheio, você vai dizer! Então cadê? Você é sincera. Ele ali é carinhoso. Eu aqui não sou egoísta. Então onde estão os “filhos-da-puta”?
Idolatramos a verdade como pura e sincera. Adoramos o que sabemos que é bom e por isso dizemos que somos verdadeiros. Alguns ainda se arriscam a dizer “na maior parte do tempo”.
“Somos quem podemos ser”? Negativo! Somos o que é mais fácil de ser.
Para deixar de ser uma BESTA, primeiro teria que usar o espelho ali debaixo e se apresentar: “Prazer, Besta!”, “Opa, claro, Besta Quadrada, o prazer é todo meu”.
Já imaginaram, na próxima revista de periquitas ao léu, a pseudo-aquilo-tudo dizendo “eu gosto de homens honestos e pouco ciumentos, apesar de eu ser absurdamente possessiva e infernizar a vida de todos os meus namorados, e controlar a vida deles, horários, ligações e vontades”... Seria o máximo! Eu colaria a entrevista na parede do meu quarto.
Acho que, por enquanto, a parede do meu quarto vai continuar em branco. Ainda estaremos ouvindo por aí “sou sincero, carinhoso, atencioso e companheiro”... enquanto o mundo desaba em mentira, estupidez, ausência e indiferença.
Não ajudaria mais a humanidade reconhecer que alguns “defeitos” são apenas defeitos e não há porque fugir deles ou negá-los?
Não ajudaria mais a humanidade não tratar quem erra como “filhos da puta”, e passar a aceitar os desvios com mais naturalidade a fim de permitir que as pessoas se reconheçam?
Então eu vou parar de xingar aqueles que sofrem do mesmo mal que eu e deixá-los mais à vontade para dizer “sou egoísta com minhas revistas”, sem que eu finja que fiquei chocado com aquela atrocidade e dê ares de que “condeno porque não sou”.
Está evidente: todo mundo tem! Mas, continuamos a mostrar apenas aquilo que julgamos bonito de mostrar (mesmo que não tenhamos nada de bonito de fato).
E todos continuamos com a péssima mania de acreditar nas mesmas mentiras que todos contam. Nos enganamos quanto ao que está dentro de nós, propositalmente. Nos enganamos com o que está dentro dos outros, apenas para que sirva ao que gostaríamos de ver por aí...
Afinal, você não casaria com o Haroldo, se soubesse que, ele passa tanto tempo pensando nele que mal dá atenção à esposa e os filhos. Ou é violento.
Ouvi dizer por aí que “para deixar de ser, basta reconhecer que é”.
Defeitos vistos com naturalidade... naturalmente corrigidos. Defeitos condenados, defeitos escondidos, ou como estamos acostumados: defeitos negados.
Você consegue enxergar seu próprio rabo?

5 comentários:

Roberto Novaes disse...

Gostei. Maior "pega-pra-capar", rsrsrs.

De alguns anos (tá legal, meses) pra cá, sempre procuro um meio de "alertar" as pessoas sobre os perigos de conviver comigo.

A resposta mais frequente é "ah... você não está falando sério". Digo que sim, falo seríssimo! E o outro sempre encerra a conversa num tom de brincadeira, como que não querendo crer.

Concordo com você... é mais simples crer em Papai Noel.

Anônimo disse...

é...

fiquei como o cara da foto do começo. tipo um avestruz, com a cabeça enterrada na terra.

as vezes é bem mais fácil pra gente reconhecer o defeito dos outros do que nossos próprios defeitos!

eu reconheço e já reconheci para outras pessoas o quanto eu tenho problemas.
as vezes sou egoísta demais, as vezes sou mimada demais, as vezes ciumenta e possessiva demais... mas as vezes sou desencanada demais.

gosto de falar, mas muitas vezes não gosto de ouvir!

tenho defeitos... muitos.
mas óbviamente tenho qualidades.
as vezes é dolorido reconhecer que não somos perfeitos e que as pessoas que nos cercam também.

mas acredite quando eu digo: a beleza das pessoas e o amor que temos por elas está justamente nas imperfeições!

beijos a todos!

Roberto Novaes disse...

Flor... falou tudo! No fundo, a gente gosta mesmo é de reclamar, rsrsrs...

Gisela Melloso disse...

Verdade né? pq diabos reclamamos tanto??!!!

Bjkass a todos!!

MaFê Senger disse...

Fê,

bacana a nova cara do blog.

Cara, eu ri muito com esse seu texto.

Eu pensava que as pessoas 'bacanas' moravam no Orkut e que aqui, no mundo normótico, estivessem as 'defeituosas', rsrsrsrs. Me enganei... Voltamos todos nós defeituosos, para o Planeta dos Fernandos?

En temps, você não gosta de mulher que enche o saco, e eu não gosto de homemala.

BeijOM,
MaFê